Vitor Brauer Kos
Kos
Alguns dizem Kosm
Como nós chegamos nesse ponto?
Por que você deixou que eles te usassem?
Por que deu vida a esta abominação?
É por piedade?
Ou por uma vontade intrínseca de elevar todos a sua grandeza?
Ó, deusa da água, dos rios, dos mares, da correnteza, da chuva e do batismo
Eu sou seu filho, afinal
Você que criou outras serpentes e conchas e sorridentes lesmas do mar
E transformou todos em peixes e seixos
Quando nasci eu fui acalentado por palavras dignas de um rei
Mas feitas por homens e suas línguas pérfidas
"Contempla o elemento sem o qual nenhum mortal pode viver
Receba essa água celestial que lava toda impureza do seu coração
Filho, recebe essa água divina que deve ser bebida para que se viva
Que se lave e se livre de todo o seu infortúnio
Parte da vida desde o início do mundo
Essa água tem o poder único para opor toda a desgraça
Em que parte de você está escondida a tristeza?
Deixa esta criança
Hoje ela nasce de novo nas águas saudáveis em que ela é banhada
Como é encarregado pela deusa do mar"
Então cresci, com você mas sem você
Você que tinha de cuidar de todo mundo ao seu redor
Adolescente, me juntei a outros para te ajudar
Erguemos rochas e carregamos tijolos para construir uma ponte aos céus
Que nunca foi concluída
As pessoas perdem o interesse
As pessoas perdem a bondade
As pessoas perdem a motivação
As pessoas perdem o amor
As pessoas perdem tudo
Quando querem ganhar algo
Enquanto o sol se punha atrás da lua
Te convenceram que sua gentileza era desonesta
Te convenceram que você tinha buscas egoístas
E você chorou rios de sangue durante 52 anos
E o dilúvio destruiu cidades e estados e países e continentes
E para afogar meu pai e todos os pais
Você me afogou também
E nas profundezas do atlântico eu entendi
Porque João testemunhou o apocalipse
Porque João escreveu as palavras mais lindas que os humanos já puseram seus olhos
Centenas de anos depois você encalhou na areia
Suja, destruída e com parasitas por todo o seu corpo divino
Eu também me pus a andar novamente
Mas hoje estou velho
E carrego a lua como uma placenta
Eu nunca parei de me perguntar
Por que você deixou que eles te usassem?
Por que você deixou que eles te usassem, mamãe?
Por que deu vida a esta abominação?
Fundida a ferra e fogo e sangue e lágrimas
Seu corpo e alma batizados noutro culto profano
Ó, doce criança de Kos
Retorna ao oceano
Uma maldição sem fim
Um oceano sem fundo
Acolhendo tudo que foi e que é e que será nesse mundo